quinta-feira, 30 de junho de 2011

Desejo de morrer

(...)
Eu deixo a vida como deixo o tédio 
Do deserto, o poento caminheiro,
– Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro; 

(...)
Descansem o meu leito solitário 
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida. 

(...)
Álvares de Azevedo

Com a visão perturbada
Percebi um vulto negro
Cruzando a estrada
Roubou-me a vida que eu não mais tinha
Levou embora a memória e a consciência.
Deixou-me nua, com os braços vermelhos.
Sorriu para mim, impiedosa,
Deixando existir apenas o meu passado.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Meu exílio

Vivo na prosa,
No deleite de uma poesia miúda,
O leito que me aconchega
E me faz suspirar.
Delírio!
De todos os sentidos,
Sentimentos banidos
De mim, para meu escrito.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Ao em-ti contido

Antes cessar minha existência
A ceder-te minha essência.
O que precede são aglomerados de iguais.

Nasceste com a derradeira felicidade
A certeza de ser
Anacrônica certeza em-si.
A tua pauta de existir
Estende-se
Na imensidão de uma caverna.

Antes cessar minha existência
A ceder-te minha essência.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Escrever

Escrever é isolar-se.
É doer a própria dor em corpos alheios
subjetivamente.
É subverter-se no outro
e tornar-lo em si.
E no tornar-se, silenciosamente,
As almas abstraem-se.